O desmatamento no Brasil segue aumentando e, a cada dado divulgado, a omissão do governo causa desconforto. O cenário que parecia ser favorável ao crescimento da economia, principalmente do agronegócio, acabou sendo um tiro no pé.
Vários países anunciaram deixar de fazer negócio com o Brasil e a rejeitar produtos brasileiros, como a carne, alegando que estes seriam fruto do desmatamento.
Dentro de uma política cada vez mais polarizada, parece difícil chegar a um senso comum para resolver a crise ambiental no Brasil, que tem consequências locais e globais. Pelo segundo ano consecutivo, o governo questiona os dados de desmatamentos pelo INPE e exonera pesquisadores. No mês de junho, alertas feitos pelo Instituto indicaram a perda de mais de mil km² de floresta; alta de 10,65% em relação ao mesmo período do ano passado. Neste mesmo mês, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, teve de voltar atrás e revogar um despacho que permitia o cancelamento de multas por desmatamento na Mata Atlântica. Sendo que, neste bioma, a perda de floresta cresceu quase 30% após dois períodos consecutivos de queda (SOS Mata Atlântica). Importante ressaltar que as florestas nativas trazem benefícios ao agronegócio, pois sua produtividade depende de chuvas que são reguladas pelas florestas.
O aumento da produção, atrelado ao desmatamento, é um problema antigo e que se agrava com frequência, mesmo neste contexto em que conceitos de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental ganham cada vez mais importância no mundo. Porém, de acordo com um estudo publicado pela revista Science intitulado “the Rotten Appel of Brazil’s Agribusiness” (As maçãs podres do agronegócio do Brasil), numa amostragem feita através do CAR (Cadastro Ambiental Rural), concluiu que a maioria das propriedades agrícolas do país é livre de desmatamento, dentre 15% das propriedades desmatadas após 2008, apenas 2% são responsáveis por 62% do desmatamento. Enquanto essa pequena, mas destrutiva parcela do setor, não cumpre as leis e apoia a destruição pelo governo, as perspectivas econômicas do agronegócio brasileiro continuarão a ser ameaçadas. Adotar medidas concretas para alcançar a conformidade ambiental seria mais economicamente viável, compensando dívidas ambientais através da compra de Cotas de Reserva Ambiental (CRAs).
Não menos importante, é a proteção dos nossos agricultores. São quase 5 milhões com nenhum ou baixo acesso à tecnologia que precisam ser protegidos para que consigam enfrentar fatores incontroláveis do clima e instabilidade do mercado. É preciso e possível alcançar desenvolvimento econômico e social facilitando o acesso à inovação e tecnologia, investindo em uma agropecuária sustentável, favorável aos produtores e preservando a natureza. (Segundo o jornalista José Luis Tejon)
O Brasil, certamente, tem todos os elementos para alimentar o mundo, com um responsável setor agrícola que lida com as mudanças no clima e protege uma das regiões de maior biodiversidade. Mas, para atingir esse objetivo, o país e seus parceiros internacionais devem reconhecer seus interesses ambientais e responsabilidades como passo principal para buscar soluções comuns.