A guerra civil na Síria está prestes a completar uma década de existência e Razan Sulíman, residente no Brasil, é uma dentre os milhões de refugiados que a guerra gerou.
O conflito explodiu em março de 2011 em meio a movimentos semelhantes por todo o Oriente Médio a chamada Primavera Árabe, até então o país era relativamente estável, embora fosse também uma ditadura.
O tirano local, Bashar al-Assad, apoiava-se nas Forças Armadas e na parcela da população que seguia a vertente alauita do islamismo. Já Razan é muçulmana sunita.Seu esposo na época, com quem tinha dois filhos, atuava no exército de al-Assad e, em 2012, não aceitou o pedido de separação da mulher, chegando ao ponto de invadir sua casa e esmurrá-la.
Depois fugiu com os filhos, que também são de Razan, para a Alemanha. Até hoje, ela não mais os viu. E sequer consegue falar com eles ao telefone.
Razan vivia em Aleppo, noroeste da Síria, uma das cidades mais belas e prósperas do país antes do conflito. Quando a guerra começou, a região foi castigada pelo exército sírio, pelos fanáticos do Estado Islâmico, por toda sorte de guerrilheiros.
E, hoje, Aleppo é um gigantesco campo de ruínas. Sem os filhos, com um novo marido (Mohamed) e passando fome em Aleppo, ela resolveu ir para a capital do país, Damasco, a pé.Uma jornada de 310 quilômetros. Razan perdeu a conta dos cadáveres que viu pelo caminho. Chegou a Damasco horrorizada, em estado de choque, e decidida a abandonar a Síria. Foi para Beirute, capital do Líbano, onde ficou por três meses.
Após sair de Beirute, ela e o marido resolveram ir para a França, mas foram impedidos, ainda em solo Libanês desesperados, optaram por refugiar-se no Brasil, um país que ainda desconheciam, mas sabiam que existia uma grande população árabes na cidade de São Paulo e assim fizeram.
Chegaram em São Paulo em 2014, apenas com a roupa do corpo e sem falar português. Com o apoio da comunidade muçulmana local, conseguiram se estabelecer na zona Sul da cidade, onde passaram a vender doces Sicilianos no Parque do Ibirapuera e botões de rosas com mensagens românticas para os casais que frequentavam os barzinhos noturnos de São Paulo, Foi em um desses bares que Razan e o esposo encontraram a oportunidade de abrir um pequeno restaurante de comida Árabe.
E hoje com apenas seis anos no Brasil já possuem três grandes restaurantes e empregam vinte e duas pessoas e mesmo em ano de pandemia, como está sendo 2020 os negócios estão em alta, já que passaram à comercializar as famosas quentinhas com entrega nas residências e assim mesmo quando os restaurantes estavam fechado, por causa do isolamento social, eles vendiam a média de 700 refeições diárias