Em 25 de dezembro de 1977, a lenda do cinema Charlie Chaplin morria em sua residência em Corsier-sur-Vevey, na Suíça, aos 88 anos de idade. Com diversas condecorações pelos serviços prestados ao desenvolvimento do cinema, o ator levou diversas personalidades notáveis, como chefes de estado e celebridades para o país europeu, buscando a última homenagem ao ídolo.
Dois dias após o óbito, uma cerimônia privada, organizada pela última esposa do cineasta, OonaO’Neil, recebeu amigos íntimos para enterrar Chaplin, em frente a uma lápide branca simplista, sem qualquer referência de sua presença além da escritura contendo o nome do falecido. Por lá, Charles teria seu descanso eterno ou, ao menos, alguns momentos longe da comédia e das aventuras que passou em vida.
Em 1 de março de 1978, a sepultura onde o ator estava instalado amanheceu vazia, com um monte de terra ao lado. Em meio a uma forte chuva, os funcionários do cemitério se surpreenderam com o fato; o cadáver de Chaplin havia sido roubado durante a madrugada. Iniciava assim uma quimérica investigação de dez semanas em busca do ídolo do cinema mudo.Residindo na Suíça, parte da família recebia diversas ligações sem informações contundentes, dificultando ainda mais as buscas. Para piorar, meses antes, o político Aldo Moro havia sido sequestrado e morto por terroristas na mesma região onde Chaplin morava, deixando os filhos e funcionários da casa aterrorizados com a possibilidade de ser um sinal criminoso.
Outras teorias apontavam o roubo aos feitos de Chaplin em vida; poderia ter sido um ataque motivado por antissemitas, visto que, de acordo com rumores, Chaplin era judeu e deveria repousar em um cemitério anglicano. Outra hipótese foi a de que admiradores levariam o corpo para a Inglaterra, onde seria sepultado em seu país natal, uma terceira teoria atribuía a autoria aos nazistas, em resposta a paródia de Hitler no filme ‘O Grande Ditador’.
Os saqueadores, no entanto, tiveram motivos bem menos complexos do que o esperado; tratava-se de uma dupla inexperiente que, após ver um sequestro de cadáver na Itália em um jornal, viu o roubo do corpo como uma solução para resolver a difícil situação financeira que passavam. A descoberta partiu da própria dupla, que ligou para o castelo dos Chaplin, sendo atendida pelo mordomo Giuliano Canese, que passou para Oona.
De voz trêmula e com gaguejos, os telefonemas inicialmente pediam 600 mil francos suíços, mas posteriormente foram convertidos para 600 mil dólares americanos, ambos valendo cerca de 4 milhões de reais. A proposta foi recusada pela esposa com deboche, afirmando que a situação era “ridícula”. Os ladrões insistiram e diminuíram o valor gradativamente até os 100 mil dólares. Oona aceitou, mas era parte de um plano com a polícia para emboscá-los.
O pagamento do resgate foi agendado, porém, justamente no dia da entrega, um carteiro com características semelhantes às descritas por funcionários do cemitério caminhava na região e foi detido por engano.
Os ladrões notaram o movimento e bolaram outro plano, sempre ligando por orelhões, a polícia, entretanto, saiu na frente; realizou uma megaoperação com militares em 200 cabines telefônicas na cidade.Quando a ligação para a mansão foi feita, às 9h30 do dia 17 de maio, a polícia localizou os delinquentes amadores Roman Wardos e GantschoGanev, dois mecânicos responsáveis pelo sequestro. O corpo estava na casa dos rapazes em um enredo digno de Chaplin.