“Vou chamar a Vanguarda”, frase ameaçadora usada por cidadãos insatisfeitos para denunciar situações em que o poder público não corresponde.
Alguns o fazem em desespero pelo estado calamitoso da rua ou do bairro: buracos, esgoto, mato alto, escorpiões e asfalto. Há quem use do mesmo subterfúgio apenas como vitrine, chance de aparecer na televisão e alcançar notoriedade passageira.
A Vanguarda, sabemos, é afiliada da Rede Globo, com expressiva audiência e capacidade para alavancar ou prejudicar a imagem de qualquer pessoa, especialmente de autoridades. Seu poder como veículo de comunicação é inquestionável, seja ele usado ou não a serviço da verdade.
Reportagens mostrando desconfortos - principalmente ao vivo – colocam qualquer agente público em situação muitas vezes constrangedora. Mas têm efeito rápido e obtém soluções antes demoradas ou sequer planejadas. Todos fogem de matérias que lhes sejam desfavoráveis, às vezes indicando um “laranja” para responder aos questionamentos. E muitos dos indicados passaram vexames memoráveis frente às câmeras.
Gritar que vai chamar a Vanguarda, no fundo mesmo, é pura e simples bravata cidadã. Impossível para a emissora que cobre mais de quarenta municípios atender a todos pedidos recebidos, alguns sem fundamento ou interesse jornalístico. Quando um telejornal entra no ar veicula reportagens de interesse regional e divididas por segmentos. Matéria específica de um município é encaixada vez ou outra, a depender do volume de notícias do dia.
Na verdade, o cidadão reclamante busca que a emissora solucione problemas que competem exclusivamente ao prefeito e aos agentes responsáveis nomeados por ele, mesmo que concursados. O repórter, apresentadores e comentaristas, com microfones à mão e tempo para falar, portam-se como os donos da verdade, mesmo que desconheçam o orçamento do município, as leis de uso e ocupação do solo e orgânica, plano diretor, acervo de equipamentos e outros temas necessários.
Ao invés de chamar a Vanguarda ou qualquer outra emissora, e depender delas para solucionar seus problemas, mais apropriado ao cidadão é crer no poder do seu voto. Se errou na escolha anterior grite apenas para a sua consciência: “EU QUE ERREI!”
Reaja, esqueça a Vanguarda e acerte no próximo voto.